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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Delineando Histórias...

Delineando Histórias...

Na história da maquiagem encontramos as diferentes funções que a pintura corporal assume de acordo com a época e com os costumes das civilizações. Essa necessidade de pintar o corpo surge nos homens pré-históricos, que extraíam as cores da natureza, como argila, carvão, misturas de minerais e extratos vegetais para retratar suas crenças, desafios enfrentados no decorrer do dia e até o entendimento que tinham do mundo (LEITE apud FONSECA, 2007). Atualmente o uso de substâncias sobre a pele assume diversos valores ao lado de adornos naturais (Fig.1).


Fig.1: Remanescentes de tribos que habitam a margem do rio Omo na África. Foto: Hans Silvester

No Egito, mulheres como Cleópatra (Fig.2) e Nefertiti, como também a grande maioria das egípcias, utilizavam uma infinidade de substâncias para traçar e realçar a cor de seus lábios, bochechas, olhos e sobrancelhas. Okohl era a substância negra essencial para contornar os olhos e cobrir a sobrancelha, sua composição era à base de antimônio, produto tóxico, misturado com carvão. Aliás, grande parte destas substâncias coloridas que os egípcios utilizavam para se maquiar era venenosa, como o antimônio vermelho, a galena, sulfeto natural de chumbo de cor cinza azulado, a malaquita e o óxido de cobre de cor esverdeada (KURY, 2000).

Naquela época, segundo Lopes, o pó de malaquita, de origem mineral era utilizada sobre as pálpebras com efeito de sombra , tais maquiagens destinadas aos olhos também serviam para evitar o olhar com Rá, o deus Sol (FONSECA, 2007).
O ocre amarelo que cobria a pele, adquiria reflexos dourados à luz, faces se realçavam com o ocre vermelho, as veias do busto e têmporas eram delineadas com azul ( ROUSSO, 2000).


Fig.2: Cleópatra

Na Grécia Clássica assim como no Egito, afirma Kury(2000), a vaidade e os preparativos de beleza eram comuns à praticamente todas as mulheres, as mesmas dispunham de espelhos de metal polido para refletir suas imagens. E os produtos utilizados eram os mesmos dos egípcios: antimônio para os olhos e os lábios, coloração branca, à base de chumbo, e vermelha, à base de algas, amora ou terra ocre, algumas vezes misturadas com o mercúrio.
Roma nada deixou a dever, mulheres descamavam a pele com pastas feitas à base de óleo e areia, e com seu estojo de toalete, maquiavam-se, mobilizando um exército de escravas ( ROUSSO, 2000).
Inúmeros foram os escritos de poetas satíricos e mestres de retórica que ridicularizavam os rostos maquiados desde o século II a. C, até a afirmação do cristianismo. Porém, não faltavam conselhos na arte do embelezamento, descritos de forma terna por Ovídio: “Que seu amante não a surpreenda com os estojos abertos sobre a mesa: a arte só embeleza o rosto quando não se mostra” (ROUSSO, 2000).
Durante a Idade Média , em meio ao cristianismo e ao mundo monástico, a maquiagem era condenada e considerada uma prática sedutora que induzia ao pecado (KURY, 2000). No púlpito, afirma Rousso (2000), os pregadores amaldiçoavam a pintura facial: “No dia do Juízo Final, essas mulheres maquiadas não serão reconhecidas por Deus como suas criaturas e irão imediatamente queimar nas chamas de seu satânico cúmplice” .
De acordo com Molinos (2007), a maquiagem presente nessa época, era “uma espécie de disfarce à disposição das feias” associando sempre o seu uso à mulher sem atributo algum de beleza, ou à devassa, que a tinha como uma arma de sedução.
A beleza renascentista apoiava-se na figura de Vênus, cujas virtudes simbolizavam a união do corpo e da alma. De acordo com teóricos da época, o padrão de beleza estava disposto em um rosto fino e oval que projetava-se sobre um pescoço longo, a testa seria alta, o nariz delicado e a boca pequena. A pele mostrava-se transparente, seguido por face e lábios avermelhados, cores escuras eram utilizadas para delinear olhos e sobrancelhas e, todo conjunto final emoldurado pela expressão da doçura (ROUSSO, 2000). “A exuberância do Renascimento é combatida pela Reforma e pela Contra-Reforma” . Novamente a vaidade estava destinada ao fogo do inferno, o movimento impunha o conformismo e a moderação; ou seja; a rigidez prevalecia sobre a doçura. (ROUSSO, 2000). “A beleza não pode ser buscada, pois é dada por Deus”. Encontram-se novamente nos tratados de beleza a antiga recusa religiosa aos cosméticos preparados quimicamente (VIGARELLO, 2006).
De acordo com Rousso (2000), a reação contra o conformismo veio por grande parte das francesas que defendiam a liberdade de espírito e consultavam o espelho para visualizar a beleza que continuava a ser fabricada a partir de produtos tóxicos que corroíam a pele dia após dia.
No século XVIII, conforme Kury (2000), foi o auge da maquiagem na Europa, devido ao fortalecimento das Cortes ao redor de reis e príncipes, que dedicavam-se aos divertimentos cotidianos. Considerado o século da vaidade, do luxo e do exagero, os nobres não tinham nenhuma pretensão de parecerem naturais, utilizando gesso ou pó-de-arroz para cobrir os rostos e os cabelos. As faces eram coloridas, tanto para os homens quanto para as mulheres porém apenas estas pintavam os lábios. Algumas mulheres reavivavam com azul uma ou outra veia do colo ou do braço para realçarem sua brancura (LEITE, apud FONSECA, 2007).
Um outro elemento essencial para realçar a brancura: eram as mouches ou “moscas” , feitas de pedacinhos de veludo ou de tafetá, cortados em formato de círculos, e depois colados em lugares estratégicos do rosto (KURY, 2000). “Para revelar seus sentimentos amorosos, os homens costumavam desenhar lágrimas sobre o rosto pálido e desesperado” (LEITE, apud FONSECA, 2007).
A cortesã, Madame de Pompadour (Fig. 3), era exemplo de elegância, durante o século XVIII. Rousso (2000) cita: “Ninguém ousaria aparecer sem pintura na Corte, fazia-se maquiagem mesmo para dormir, e Madame de Pompadour, colocaria ruge nas faces antes de dar seu último suspiro”.


Fig.3: Madame de Pompadour

No século XIX, afirma Kury (2000), a Burguesia buscava uma aparência mais natural e saudável, dando início a uma nova era nas concepções de beleza.
O pó para o rosto era usado em menor quantidade, assim como o ruge e os delineadores. A maquiagem em excesso, encontravam-se somente nos ambientes do teatro, da ópera e nos bordéis.
Durante o Romantismo, mulheres buscavam uma palidez esverdeada, cobriam os rostos com preparados tingidos de açafrão ou de tinta para obterem olheiras azuladas e reflexos cor de ferrugem. Bebiam vinagre, engoliam montes de limão e jejuavam, a fim de expulsar a saúde, em busca da beleza espectral, cedida pela aparência tísica (ROUSSO, 2000).

FONTE: Trabalho de Conclusão: Maquiagem Cênica: A Face da Personagem.
CRISTIANE COLOMBO SEVERO


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